Se você fosse uma comida, qual seria?
“Tudo bem, eu sabia que jamais poderia ser descrita como, digamos um after eight (‘fino e sofisticado’), nem como uma bolacha de gengibre e nozes (‘dura, mas interessante’). Também não via nada de errado em ser uma torta inglesa (‘recheada de mistérios’). Em vez disso, eu era a coisa mais idiota e mais sem sabor que alguém podia imaginar – iogurte natural à temperatura ambiente -.” Essa é Margaret, ou melhor, Maggie, personagem de Los Angeles, sexto romance de Marian Keyes. Tida por todos de sua família como a filha mais certinha e perfeita, ninguém nunca poderia imaginar que algo de extraordinário ou fora da linha fosse acontecer na vida dessa mulher até que... Ela perde o emprego, abandona o marido e parte para a agitada Los Angeles. É nessa cidade tão procurada por quem sonha em ser uma estrela de cinema que Maggie vai tentar se descobrir e se entender. Será ela apenas um mero iogurte à temperatura ambiente?
O romance de Keyes é aparentemente truncado no início. Não que nada aconteça, pelo contrário. Mas é como se existisse algo de errado, as coisas não fluem. Contudo, isso não poderia ser diferente afinal, Maggie está em meio a um furacão, tudo a sua volta está de pernas para o ar: foi demitida de um emprego do qual nunca saiu da experiência; o simples desejo de comer trufas fez com que descobrisse que Garv, seu marido, tinha outra; e por fim, mas não menos trágico, se viu obrigada a voltar para a casa dos pais. Realmente, não se pode dizer que a vida dela está fluindo com a maior leveza do mundo.
Com o virar das páginas o já famoso humor da autora desponta e a obra ganha dinamismo. A cada Martini tomado com as amigas, descobertas amorosas (sejam essas do passado ou do presente) e lágrimas, muitas lágrimas, o leitor se apaixona mais e mais pela personagem de Keyes e se torna capaz de dizer se ela é ou não um simples iogurte.
Los Angeles é como aquele tipo de pessoa para qual, à primeira vista, não se dá muita confiança, mas que com o passar do tempo se mostra um alguém digno de ser um grande amigo, daquele que ri e chora com você.